12.4.18

ANTÓNIO BARRETO e as Televisões !!!


Copiado com a devida autorização ao João Hermano
É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.
Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.
É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.
Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.
Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!
Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.

17.1.18

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS NO PROGRAMA SUPERNANNY DA SIC


Porque me parece ser de extrema importância, abaixo transcrevo na integra um texto duma Psicóloga.
"Quando soube que este programa viria para Portugal, calculei que não fosse algo positivo mas resolvi aguardar pelo primeiro episódio para perceber melhor o formato.
É com muita TRISTEZA que verifico que uma colega de profissão aceitou fazer parte deste programa e queria desde já deixar explícito que a sua conduta não representa a nossa classe profissional. Não só estão a ser violados os direitos mais fundamentais das crianças, como a postura desta profissional em nada se assemelha ao trabalho que é feito pelos profissionais de psicologia no seu contexto laboral. Para além disto, as estratégias dadas no programa não estão em conformidade com tudo o que já se sabe sobre desenvolvimento infantil. São completamente ANTI-PEDAGÓGICAS e resultantes de uma época em que na ciência prevalecia o behaviourismo, que passa por educar crianças com recurso ao condicionamento, como se de animais amestrados se tratassem. Ainda são estratégias muito comuns na nossa sociedade, por desconhecimento, sendo natural a sua utilização por parte da população. Contudo, é inadmissível que um profissional, que tem recurso à literatura actual e científica, as partilhe como sendo válidas e positivas.
Começando pela violação dos direitos das crianças, e porque é preciso chamar as coisas pelos nomes, expor um menor e as suas fragilidades ao mundo inteiro é um ABUSO à sua integridade psicológica. No mundo das audiências e da popularidade, há limites que não podem ser ultrapassados e quando o são é importante que se aja em conformidade e que não sejamos todos cúmplices dos maus tratos dirigidos a uma criança. As crianças são responsabilidade dos pais mas não são propriedade destes, pelo que cabe aos pais, e também aos adultos em geral, zelar pela sua protecção. Dar autorização para expor uma criança desta forma num programa televisivo é grave, indecente e não retira a responsabilidade do abuso. Neste sentido, vou pedir à Ordem dos Psicólogos que se pronuncie sobre este assunto e farei igualmente uma exposição à Entidade Reguladora da Comunicação e à Procuradoria Geral da República (quem quiser fazer o mesmo, deixarei um link no primeiro comentário deste post com as indicações dadas pela Academia da Parentalidade Consciente).
Em relação às estratégias, assistiu-se a uma tentativa de resolução dos problemas daquela família com base na observação directa e superficial dos comportamentos da criança. Todos os comportamentos negativos de uma criança expressam uma necessidade que não foi satisfeita e o que a psicóloga fez foi apenas olhar para a ponta do icebergue. Em nenhum momento foram consideradas origens mais profundas quanto às dificuldades daquela criança em tolerar a frustração. A profissional remeteu tudo para a falta de regras e de limites e para a incoerência materna (e isso qualquer um faz quando dá palpites desinformados). Quando um psicólogo atende uma família, precisa de ter uma perspectiva muito mais abrangente do historial da mesma, nomeadamente tendo em mãos vários aspectos da vida da criança desde o seu nascimento e nunca simplificando o comportamento da criança a uma simples relação de causa-efeito. O que a psicóloga fez, sendo conivente com o formato do programa, foi reduzir toda a vida emocional daquela criança a estratégias de punição e recompensas, como se de um penso rápido se tratasse e como se umas ofertas e uns castigos resolvessem toda a complexidade da situação.
Como é óbvio, depois das câmaras desligadas, aquela criança continuará a ter os seus problemas, porque estes não desaparecem por artes mágicas de uma salvadora de pais que toca à campainha dos mesmos. O público assiste a esta ideia de que tudo se resolveu, porque o programa precisa de vender e de se auto-legitimar. Passou a mensagem de que a criança se "recompôs" mas a única coisa que aconteceu foi uma criança que no meio da humilhação que o próprio programa representa, cedeu e conformou-se. A raiva interior, a instabilidade emocional e as repercussões de estratégias que não vão ao fundo do problema e que apenas servem para varrer emoções para baixo do tapete, continuarão lá e irão revelar-se mais tarde ou mais cedo.
A mãe desta criança vai perceber isso entretanto e espero que nessa altura procure ajuda profissional efectiva, na intimidade e privacidade da sua família, sem soluções milagrosas e sobretudo tendo em perspectiva a sanidade mental da sua filha a longo prazo. Os cantinhos do pensamento e as recompensas têm efeito apenas a curto prazo e não ensinam a criança a gerir as suas emoções e a ser responsável pelos seus comportamentos. O que eu vi naquela programa foi uma criança com imensas carências que não foram preenchidas e uma criança que desesperadamente procura a atenção da mãe com comportamentos desadequados. Vi também uma mãe bastante perdida que depositou toda a sua confiança em pessoas que se aproveitaram da sua fragilidade e que provavelmente não tem noção das consequências que tudo isto traz a si e à sua filha.
Por último, não posso deixar de comentar a altivez e a atitude de autoritarismo e superioridade da psicóloga, desde as suas expressões verbais como não verbais, criando esta ideia de que um psicólogo é um ser mais iluminado e competente que aqueles que atende. Quando se recebe uma família, é importante ter-se a humildade suficiente para não nos considerarmos uma autoridade inquestionável. Devemos estar ao mesmo nível da família e de criar uma aliança de igual para igual, tendo empatia e compaixão pelas batalhas que trava e nunca com uma atitude de julgamento e de crítica destrutiva. Confrontar pode ser necessário e isso é algo que pode e deve ser feito sem olhares sobranceiros, reprovadores e de humilhação. Todos temos telhados de vidro e nenhum profissional gostaria que, na sua vida pessoal, fizessem consigo o que ali foi feito com aquela família. A certa altura, a psicóloga aconselha a mãe a não bater na filha porque isso humilha a criança, sendo que a profissional nem se apercebe que está ela a própria a fazê-lo de forma implacável, a partir do momento em que acha razoável a criança ser exposta desta forma ao país. Com a postura condescendente e de esmola, de que está ali para a ajudar, cega-se assim o público do programa.
Espero sinceramente que algo seja feito e que as crianças que estão previstas aparecerem futuramente neste programa possam merecer a protecção que esta criança não teve. E que todos os que reconhecerem esta criança na rua, tenham muita compaixão por aquilo a que foi exposta, sem interferirem com a sua dignidade.
Espero também que as pessoas saibam que não é assim que um psicólogo que cumpre um código deontológico, mas sobretudo que cumpre um papel de humanização, trabalha com os seus pacientes. Não me revejo e estou segura de que a maior parte dos profissionais não se revêm no que se observou neste programa."
Ana Rita Dias - Apoio Psicológico Online 

12.1.18

"Os Vendilhões do Templo"

A ROADIS, um dos principais investidores multinacionais, operadora e gerente de concessões rodoviárias, chegou a um acordo para adquirir participações nas Auto Estradas do Atlântico (AEA) e Auto Estradas do Litoral Oeste (AELO).
A aquisição marca a entrada da ROADIS em Portugal, um mercado com uma estrutura de concessão madura e estabelecida, que é bem conhecido da Administração da ROADIS, devido à sua experiência na região. A aquisição das participações na AEA e AELO aumenta a exposição da ROADIS aos mercados desenvolvidos, proporcionando maior diversificação ao portfólio. Após o fecho da transação, o portfólio da ROADIS incluirá 10 concessões rodoviárias situadas em seis países em três continentes.
"Estas aquisições constituem uma parte importante da nossa estratégia de crescimento", disse José António Labarra, CEO da ROADIS. "Eles respondem ao nosso interesse em expandir a área de atuação da empresa em países desenvolvidos, e complementar a nossa presença nos mercados emergentes".
A transação deverá fechar no primeiro trimestre de 2018 e está sujeita às aprovações regulamentares usuais.
SOBRE A AEA
AEA é composta por duas rodovias com portagens, a A8 e a A15, que se estendem por um comprimento total de 170 quilómetros. A A8 é uma rodovia chave no corredor económico de Portugal entre Lisboa e Porto, principalmente como artéria principal para quem viajam para Lisboa dos bairros suburbanos circundantes. A A15 liga as cidades de Caldas de Rainha e Santarém, atuando como um eixo complementar nas rotas norte-sul. O contrato de concessão começou em 1998 e expira em 2028. Nos últimos três anos, o tráfego aumentou em mais de 8 % na AEA.
SOBRE AELO
A AELO opera sob um quadro de pagamento baseado em disponibilidade e abrange um total de 112 quilómetros da costa oeste de Portugal para o seu interior. É constituída por uma série de rodovias que fornecem uma conexão entre as principais rodovias norte-a-sul, incluindo a A1, a A8 e a A17 na região de Leiria, uma das regiões turísticas mais importantes de Portugal. O contrato de concessão iniciou em 2013 e expira em 2039.
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